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Faculdade Zumbi dos Palmares dá formação para grupo de seguranças do Carrefour

Instituição de ensino e rede de supermercados participaram de lançamento da parceria na segunda-feira, dia 3 de abril; grupo de vigias é empregado pela multinacional

Reitor da Zumbi dos Palmares com presidente do Carrefour

5 de abril de 2023

A Faculdade Zumbi dos Palmares dá um curso de formação para 90 profissionais de segurança privada do Carrefour. Os alunos iniciaram as aulas em 21 de março, Dia Internacional contra a Discriminação Racial, e o anúncio oficial da parceria ocorreu no dia 3 de abril, segunda-feira, no prédio da universidade, dentro do Clube Tietê.

“Essa casa estará sempre aberta para receber o Carrefour. Recebemos os 90 alunos da primeira turma da segurança pública do futuro”, afirmou José Vicente, reitor da instituição. A rede de supermercados fica responsável por pagar para a Zumbi dos Palmares a formação dos funcionários da multinacional.

A medida é mais uma resposta do Carrefour para o crime cometido por seguranças privados contratados por uma terceirizada, a Vector, contra João Alberto Freitas, homem negro de 40 anos, espancado em uma unidade da rede em Porto Alegre (RS). Ele foi morto em 19 de novembro de 2020, um dia antes da data em que se comemora a Consciência Negra no país. 

Após uma onda de protestos em várias cidades, o Carrefour se movimentou para evitar processos na justiça e promoveu ações para recuperar a imagem da empresa. A rede de supermercados firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no valor de R$ 115 milhões e com a promessa de promover ações de combate ao racismo.

A parceria firmada com a Faculdade Zumbi dos Palmares nesta semana está para além do TAC, segundo a assessoria de imprensa do Carrefour. “É mais um passo alinhado à responsabilidade da promoção da equidade racial e combate ao racismo”, afirma a companhia em nota. O objetivo é o de transformar o “modelo de segurança privada”, com uma equipe com “formação sólida e atual na resolução de conflitos e na transformação da realidade social, preparando os profissionais da área da segurança”.

No comunicado enviado para a imprensa, a Zumbi dos Palmares afirmou que o encontro tinha “o propósito, de que juntos possamos evitar que outros ‘Betos’ possam pagar com a vida, a intolerância racial que existe em nosso país”. 

O reitor da Zumbi dos Palmares fez questão de recordar a memória de Beto Freitas durante o evento. “Se essa manhã tivesse nome, e tem que ser nomeada, seria João Alberto Freitas, nosso Beto Freitas, que pode viver na pele, da forma mais dura possível, os motivos da nossa luta. Essa reunião é um divisor de águas”, declarou.

Semanas depoois da morte de João Alberto Freitas, o Carrefour, provocado pelo Comitê Externo Independente, formado por pessoas negras empreendedoras e intelectuais, anunciou alterações na segurança da empresa. Depois de ter sido provocada pelo comitê, decidiu por internalizar a segurança da empresa, promessa descumprida, como mostrou reportagem da Alma Preta. O Carrefour contratou novos vigias e seguiu com acordos com empresas de segurança privada acima dos R$ 40 milhões anuais.

A cerimônia também serviu para celebrar o início da campanha “Racismo Zero”, uma iniciativa da faculdade para atrair grandes empresas e provocar o poder público para a contratação de pessoas negras, fomento do afroempreendedorismo, o fim da discriminação racial dentro do ambiente de trabalho, entre outras medidas. O Carrefour e a P&G, empresa do setor de cosméticos, higiene e saúde, compõem a iniciativa, que deve receber novas empresas.

“Assumimos o compromisso de um mundo empresarial diferente. Nada de novo do que Zumbi fez, do que Luiza Mahin fez, e tantas pessoas negras se propuseram. Quilombo dos Palmares nada mais foi do que a proposta de uma sociedade alternativa, em que homens e mulheres livres exerceram a sua autodeterminação. Nada mais do que isso”, explicou Rafael Vicente, diretor acadêmico da Faculdade Zumbi dos Palmares. 

No acordo, o Carrefour se comprometeu a privilegiar pessoas negras nas ações publicitárias da empresa e garantir a contratação de 50% de pessoas negras, desde cargos de chefia até o chão da empresa.

“É um ato de mudança de 360 graus, que atinge primeiro o Carrefour e depois se estende até o ecossistema. Todos os fornecedores da rede de supermercados terão um marco do que não pode acontecer”, finaliza José Vicente.Divergências sobre o Carrefour

O comunicado do encontro foi divulgado para personalidades, ativistas de movimento negro e para organizações políticas. O Movimento Negro Unificado (MNU) optou por não participar do encontro em protesto pela morte de João Alberto Freitas e por divergir dos acordos firmados com o Carrefour.

Desde que foi selado, em 11 de junho de 2021, o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) tem sido alvo de críticas de organizações e movimentos sociais. O pacto foi firmado entre a rede de supermercados e o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (MPRS), o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul (DPE-RS), a Defensoria Pública da União (DPU). 

Grupos ligados ao Conselho da Comunidade Negra do Rio Grande do Sul (CODENE) pedem a anulação de partes do TAC por entenderem que o acordo fere os princípios legais da Lei das Ações Civis Públicas e o decreto estadual que regulamenta o Conselho da Comunidade Negra.

O CODENE também pede maior transparência para a aplicação dos recursos do TAC. Hoje os valores são geridos pelo Carrefour e uma consultoria financeira contratada pela rede de supermercados, com a fiscalização de órgãos como o Ministério Público Federal. Não há, contudo, uma apresentação dos valores gastos, datas, finalidades do investimento, ou mesmo as organizações e pessoas que receberam recursos provenientes do trato.

Errata: A primeira versão havia indicado o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, como integrante do Comitê Externo Independente formado pelo Carrefour. Essa informação foi alterada. Ele não faz parte do Comitê.

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